segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Seção: Livros Publicados




I ANTOLOGIA SOPOESPES – 3 Anos de Prosa e Poesia



        Em 2014 lançamos a 1ª antologia da Sopoespes – Sociedade dos Poetas e Escritores de Pesqueira.

        Como membro da entidade, fui coautora e uma das organizadoras da obra.

        A I Antologia apresentou 27 autores e autoras, compondo-se esta de poemas, crônicas, canções, contos, cordéis e haicais.

        Assinou o prefácio do livro, Oto Siqueira de Albuquerque, sócio fundador da entidade, e a orelha, o inesquecível acadêmico Sebastião Gomes Fernandes.

        Organização: Edmilton Torres, Jacqueline Torres, Maria Rita Albuquerque e Zélia Costa.

Dados bibliográficos:

LEAL, Adriana et al. I Antologia Sopoespes: 3 Anos de prosa e poesia. Olinda: Babecco, 2014.
ISBN 978-85-8394-010-4



Hora de Poema





Imagem da Web - Desconheço a autoria

Poesia e Noite



Ilustração - Anne-Julie Aubry

sábado, 28 de setembro de 2019

Poesia Nova


A  Obsoleta Poesia Mais do Mesmo



             Rasgue a velharia torta da poesia insossa e pré-moldada; desse tipo de macarrão instantâneo que já vem 50% pronto. Longe da iguaria, na literatura poética isso representa, a meu ver, um desastroso formato utilizado por inúmeros poetas e poetisas adeptas do “mais do mesmo”, da fácil, mas apática e cansativa forma, da pouca ou nenhuma identidade no que se produz, do limitável que se apresenta desde o formato até o mau uso das palavras. Sempre quase as mesmas, sempre quase os mesmos temas, o velho e nauseabundo sentimentalismo… É a imperiosa ordem do convencional que regi grande parte dos poetas, é o medo do novo, medo do mau, mas necessário denodado comportamento literário, medo da ruptura com a norma vigente que pede sempre melodiosos versos, palavras amenas e sentimentais, estrelas sendo estrelas, olhos sendo olhos, rosas sendo rosas, saudade sendo saudade… Não há espaço para o ID, diria Vital Corrêa de Araújo.


                Assim, não há esperança.

                Se deseja se inscrever na história da poesia poesia (como também define VCA), repudie os poemas encomendados, os poemas escritos como se fossem receitas culinárias, prescrição de manipulados, repudie os temas como se a poesia fosse tal qual uma redação do Ensino Fundamental, repudie, repudie, repudie!

                De maneira nova, a palavra dicionarizada, tão insossa e tão utilizada de forma ordinária para repetir o que já foi dito, aqui vai um neologismo, zilhões de vezes, deve trazer na sua face novo significado estético, ou mesmo a desconstrução do preestabelecido, tem-se medo de pintar o tronco da árvore de roxo e sua copa de rosa vivo e insurgente, tem-se medo de pintar os campos de azuis inimagináveis.

                Romper com a forma preponderante moldada pelos séculos, não é fácil. Mas é possível. É possível visto que na literatura tudo se pode. Visto que na arte tudo se pode. Não há moralismo, ética, pudores, regras fixas na arte (refiro-me à expressão do artista); aqui, no entanto, não falemos das multilinguagens da arte, nem mesmo da literatura enquanto prosa. Mas da Poesia. É sobre isso que discorre esta breve reflexão. É aqui onde está o tema deste discurso. Poesia desembolorada, desemcapada, destampada, desnorteada, desfabricada, desconstruída. Poesia pungente, repleta de singularidade. Não precisam os ouvidos ou os olhos dos ilustres leitores e leitoras do mesmo “blá-blá-blá”, (gosto das onomatopeias) de sempre, precisamos servir originalidade nos versos, comovente adaga que fira, que retorça a racionalidade, que sopre do juízo do ouvinte a pasmaceira, a intragável delicadeza dos aljôfares, das rosas cálidas, do amor platônico, piedoso ou não correspondido que nutre em si a fácil efemeridade do comum.

                Rasgue a velharia obsoleta que não dá a devida identidade ao texto poético, desfaça-se de tudo que impede sua fluidez, que impede a anástrofe natural da palavra na busca da palavra plena e suficientemente capaz de neutralizar o fútil emprego no verso do seu habitual significado. Se escreves, rebela-te! Se és leitor, leitora, rebela-te também! Não aceites tão pouco de um universo que deve trazer pra tua voraz prática a beleza perpétua da grande literatura poética. Os incomensuráveis versos que têm poder de te revirar ao avesso, de te lançar a outras instâncias de prazer e fascinante universo desconhecido. O êxtase diante do belo, o sabor do espanto preso à língua que prova no silêncio o poema mais imensurável e febril, só é possível ser encontrado na poesia que rompeu suas amarras e lançou-se em direção aos abissais mundos sombrios e delirantes dos oceanos da liberdade poética.

                  Rebela-te!

Jacqueline Torres



Hora de Poema



TINHA DISSO...

Ilustração: Anne-Julie Aubry

Tinha disso de ficar estranha
de desmerecer adjetivo sério
Tinha vontades dessas de ser coisa
de ser céu de água de riacho
porque de mar tem peso
E peso é coisa desinteressante
          para quem tem jeito para ser nuvem
Não nuvem de céu
Nuvem de espelho d’água
          ou de retina
Tinha dentro esses quereres
Essas coisas pequenas e simples
Querer de ser antiga
E de guardar a alma nas pedras.
Era disso que eu fazia tempo
e descuidava de verso
porque eles se nutrem das horas,
dos anos e nunca morrem
Tinha desse pensar desde menina
Até formiga quis estar, especialmente
             quando tarde era
e eu cerzia os ocos das coisas
em qualquer coisa que merecesse verso
             que verso ainda não era
só palavra sem feitio de poesia
Era só brincadeira de ser estranha
Porque eu era repleta de telhado e infinito
e não sabia ao certo
             se daria para poema.

( Jacqueline Torres )

Ser escritor(a)...





MAS QUE DIABO É SER ESCRITOR?!



Cap. 1 – Em busca de resposta


Não é raro essa indagação ser feita a um escritor/escritora ou mesmo ocorrer frequentemente no juízo de quem escreve. E não há de surgir apenas das ponderações de um escritor no início de sua vida literária, pelo contrário, por toda a vida deste, esse “diabo” de questão se interpõe.

Bem, no meu caso é assim!

Algo que aos olhos das pessoas, ou de quem aprecia a literatura, (consideremos aqui todo gênero literário), pode parecer simplório, tem muitas vezes efeito inquietante e/ou mesmo avassalador no escritor.

Mas que importância tem essa indagação?
Que sentido tem respondê-la?



Imagem 1: Desconheço a autoria1


Aparentemente… Questão 1: Ela vai ajudá-lo a conceituar, normalmente de forma técnica, o que é este ofício de escrever. E, só!

A coisa é tão intrincada, que meti o diabo no título-pergunta a fim de deixar claro o quanto é complexa essa (percebam que o demonstrativo também põe distante essa “coisa”) definição. Se fôssemos (não desmerecendo aqui nenhuma profissão), definir o que seria ser médico, professor (essa é minha área), mágico, cozinheiro, agricultor, nutricionista, seria decerto, menos complicado… Mas escritor?!
Xiiii !

Aparentemente… Questão 2: Nenhum! (Lembram da perguntinha em negrito lá em cima, não é?)
Perplexo(a) com a resposta? Não se espante! Há mais espanto neste ofício do que se pode imaginar.




Cap. 2 – Continuamos na busca...


Há algum tempo dizia-se que o escritor, o poeta… Pausa! Depois posto um texto explicando porque se referem de forma distinta a essas duas atividades intelectuais e sempre se referem a alguém dizendo: “a escritora e poetisa”, “o poeta e cronista”, e por aí vai... (Grrrrrrr parece que quem faz poesia não é escritor!) Blé!!! faz sentido? Bom… Falo disso em outro post! (Prometo!!!)

Aonde estávamos, mesmo?
Ah! … Há algum tempo… Acreditava-se e afirmava-se que para ser escritor era preciso ter nascido com “vocação” pra “coisa”, ser poeta, então…

Bem! Ser escritor, hoje não necessita de prévia formação cármica… Pode-se, sim, ser escritor estudando, fazendo oficinas de escrita, graduação acadêmica (graduação acadêmica não confere talento, vale salientar), e lendo! Lendo MUITO! Se quer escrever bem, tem que ler. Ler sempre. Ler e ler apaixonadamente. Ler a “Grande Literatura”. A máxima de que, “quem ler muito, escreve bem”, procede. É claro que vamos juntar a esse exercício de leitura um tanto de criatividade, não é, mesmo? Tem mais… Observância do mundo em redor, solidão, muito suor, noites em claro, afinco, ousadia, e… Tem mais coisa! E que tal descobrir você essas outras tantas coisas, hein?! Bom, mas basicamente é isso.
Não posso dar a fórmula pronta. Ela não existe...

Já a poesia é uma outra faceta ainda mais complexa… (Aí surge a ligeira incongruência quase perceptível entre os gêneros… Poesia e prosa)

Perdoem-me… Vou deixar de tanta redundância!


Voltemos à velha e frequente reflexão: “O que é ser escritor?”




Imagem 2: Desconheço a autoria2



Cap. 3 – A busca não termina aqui...


Ser escritor(a) é a voragem incansável de escrever. A paixão desmedida pela palavra, o audaz e permanente exercício de brincar com as palavras, de usá-las como arma para ferir a quietude, a monotonia do(a) leitor(a), daquele(a) assumidamente leitor(a), e daquele(a) que resiste às armadilhas da literatura!

Ser escritor/escritora é sentir prazer neste exercício solitário, inquietante, assombradamente belo, é debulhar as sombras, as luzes, os raios, os silêncios nos dedos ágeis em um 
teclado, ou mesmo com uma caneta… São horas intermináveis construindo um roteiro, esgrimindo com um verso, atônito(a), conversando com as estrelas, as paredes, o vento… Delirando! Delirando!

A “coisa” parece ser meio doida! E talvez essa definição não lhe convença ou choque os catedráticos…




Imagem 3: Desconheço a autoria3


Esse de terno azul, não é você, é o catedrático!

Mas o mundo da literatura é mesmo meio doido! O termo talvez não combine com a sobriedade e gravidade de alguns ortodoxos, mas no fundo no fundo, todo escritor ou escritora tem um pouco de loucura. E, ai dele(a) se não tiver!

Para encerrar, as palavras de um dos meus poetas preferidos, Manoel de Barros (1916 – 2014):

“ … Poesia pra mim é a loucura das palavras, é o delírio verbal, a ressonância das letras e o ilogismo. Sempre achei que atrás da voz dos poetas moram crianças, bêbados, psicóticos. Sem eles a linguagem seria mesmal (…) Prefiro escrever o desanormal.” ( em “Ensaios Fotográficos”, 2000 )


Até o próximo post, ilustres!



Jacqueline Torres



......................



Bom, vou deixar aqui uma dica para quem quer ser escritor(a):

Procurem ler “Cartas a Um Jovem Poeta” de Rainer Maria RILKE (1875-1926).
E leiam sempre Manoel de Barros até virarem borboleta, quintal, passarinho, uma tosse…




P.S. Desejando entrar em contato, envie e-mail para: jacquelinelenin@bol.com.br


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