sábado, 28 de setembro de 2019

Poesia Nova


A  Obsoleta Poesia Mais do Mesmo



             Rasgue a velharia torta da poesia insossa e pré-moldada; desse tipo de macarrão instantâneo que já vem 50% pronto. Longe da iguaria, na literatura poética isso representa, a meu ver, um desastroso formato utilizado por inúmeros poetas e poetisas adeptas do “mais do mesmo”, da fácil, mas apática e cansativa forma, da pouca ou nenhuma identidade no que se produz, do limitável que se apresenta desde o formato até o mau uso das palavras. Sempre quase as mesmas, sempre quase os mesmos temas, o velho e nauseabundo sentimentalismo… É a imperiosa ordem do convencional que regi grande parte dos poetas, é o medo do novo, medo do mau, mas necessário denodado comportamento literário, medo da ruptura com a norma vigente que pede sempre melodiosos versos, palavras amenas e sentimentais, estrelas sendo estrelas, olhos sendo olhos, rosas sendo rosas, saudade sendo saudade… Não há espaço para o ID, diria Vital Corrêa de Araújo.


                Assim, não há esperança.

                Se deseja se inscrever na história da poesia poesia (como também define VCA), repudie os poemas encomendados, os poemas escritos como se fossem receitas culinárias, prescrição de manipulados, repudie os temas como se a poesia fosse tal qual uma redação do Ensino Fundamental, repudie, repudie, repudie!

                De maneira nova, a palavra dicionarizada, tão insossa e tão utilizada de forma ordinária para repetir o que já foi dito, aqui vai um neologismo, zilhões de vezes, deve trazer na sua face novo significado estético, ou mesmo a desconstrução do preestabelecido, tem-se medo de pintar o tronco da árvore de roxo e sua copa de rosa vivo e insurgente, tem-se medo de pintar os campos de azuis inimagináveis.

                Romper com a forma preponderante moldada pelos séculos, não é fácil. Mas é possível. É possível visto que na literatura tudo se pode. Visto que na arte tudo se pode. Não há moralismo, ética, pudores, regras fixas na arte (refiro-me à expressão do artista); aqui, no entanto, não falemos das multilinguagens da arte, nem mesmo da literatura enquanto prosa. Mas da Poesia. É sobre isso que discorre esta breve reflexão. É aqui onde está o tema deste discurso. Poesia desembolorada, desemcapada, destampada, desnorteada, desfabricada, desconstruída. Poesia pungente, repleta de singularidade. Não precisam os ouvidos ou os olhos dos ilustres leitores e leitoras do mesmo “blá-blá-blá”, (gosto das onomatopeias) de sempre, precisamos servir originalidade nos versos, comovente adaga que fira, que retorça a racionalidade, que sopre do juízo do ouvinte a pasmaceira, a intragável delicadeza dos aljôfares, das rosas cálidas, do amor platônico, piedoso ou não correspondido que nutre em si a fácil efemeridade do comum.

                Rasgue a velharia obsoleta que não dá a devida identidade ao texto poético, desfaça-se de tudo que impede sua fluidez, que impede a anástrofe natural da palavra na busca da palavra plena e suficientemente capaz de neutralizar o fútil emprego no verso do seu habitual significado. Se escreves, rebela-te! Se és leitor, leitora, rebela-te também! Não aceites tão pouco de um universo que deve trazer pra tua voraz prática a beleza perpétua da grande literatura poética. Os incomensuráveis versos que têm poder de te revirar ao avesso, de te lançar a outras instâncias de prazer e fascinante universo desconhecido. O êxtase diante do belo, o sabor do espanto preso à língua que prova no silêncio o poema mais imensurável e febril, só é possível ser encontrado na poesia que rompeu suas amarras e lançou-se em direção aos abissais mundos sombrios e delirantes dos oceanos da liberdade poética.

                  Rebela-te!

Jacqueline Torres