segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Charles Baudelaire

Imagem da Web - Desconheço a autoria
Imagem: Jacqueline Torres

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Poeta Sá de Miranda

" Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo:
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim. "


Sá de Miranda 
Poeta português nascido em Coimbra em 28/08/1491 e morto em Amares 15/03/1558


DAS LÁGRIMAS

             Arte: Anne-Julie Aubry

Em que espaços decaem
as minhas lágrimas,
que tanto tento contê-las
e não consigo?

Que espaços profundos
são esses
que todo choro derramado
ainda não deu
no seu limite?

Jacqueline Torres

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

OUTROS DIAS

Imagem da Internet - Desconheço a autoria

Não terei pelos calendários
nenhuma lembrança guardada
pra deixar para algumas
futuras quartas-feiras que virão
Meu nome será leve
e incômodo de dizer
Dito
a brisa soprará mais triste
O vento irá bramir baixinho
Não terei pelos calendários
a cor dos meus cabelos
nem meus olhos noturnos
Meu retrato plasmado de infinitos
de incógnitas e de amores indizíveis ficará.
Ficará pelo filtro da retina distante
e viva eternamente fixa.
Nada saberão de mim outros dias
de meu coração queixoso
de meu séquito de solidão e pesar
que segue
e que segue
lento
pelas vias mal calçadas
de meus tristes versos.


( Jacqueline Torres )
 Imagem da Internet - Desconheço a autoria

Saudade

Escrito em 30 de setembro de 2013





PALAVRA E IMAGEM


 Imagem da Web - Desconheço a autoria
INTERIORANA



A minha alma interiorana olhava da janela e andava nas tardes por entre as bananeiras,
caçava pardais para registrar seu trilado... A rua terminava na esquina. E a cidade na estrada retilínea que comia aquele taquinho de agreste e sumia-se na alva areia, às vezes poeira, às vezes barro vermelho, corria, ganhava o sertão... No agreste criei raízes num fevereiro de luz. Mas impulsionaram minha alma de quintais para a selvageria dos prédios, carnaúbas cegas espetando amplidões, e aos ouvidos misturaram-se buzinas, motores e a ferrugem das vidas fora dos trilhos. O azáfama por todos os lados. Meu coração virou um selvagem urbano. Contaminou-se de zumbidos e de água escura, ventos aquosos, marés tormentosas e agudas. Vazantes de sombras e lixo... O sol tatuou na pele muda as cores do dia. Meu ventre lançou duas sementes em sua tirania acesa, antiga, santa e profana. Abri de minhas distâncias entre as bananeiras à sombra das romãs tranquilas da memória, minha tríade bendita, e pelas janelas assomou o Frevo, o poema de Carlos Pena Filho, as almas que andaram no cais, nas pontes, na Rua da Aurora. Eu quis não me fazer vencida. Eu quis fugir. Inútil foi. Minhas moléculas são feitas de palavras. Nesse contexto não sou dona de mim... De mim a distância não me visito. As bananeiras estão quedas. O cheiro de tempo caminhando moroso nas calçadas, já não alcanço. Sou cabocla domada no burburinho urbano. Vencida aos rés do chão dou-me forma plena. Ilumino minha retina e reconheço no espelho minha alma de barro, de flor de mandacaru e de poeira. Sou uma sertaneja de alma velha, de alma poética, perdida no caos incivilizado da cidade bela e atroz.

( Jacqueline Torres )