VISÕES
há um cavalo negro
de longas crinas
Os olhos vazados para um azul
ainda claro e que aos poucos morre
Também aos poucos
esse corcel sombrio se enfurece
corcoveia e cavalga as sombras
‒ se desfaz...
Desprendo-me de meus estudos
de minhas insuficientes alegrias
para perseguir-lhe a lenta corrida
o seu esmorecer
dentro da
tarde que expira
Seu arfante respiro tão distante
Engolindo-se no concreto
dos prédios e nas copas
negras das
árvores
Longe, longe
meu cavalo
negro agoniza,
delirante, transmudando-se
em um estranho peixe tentálico
Sob o olhar ardente de Vênus
por trás da cortina
marinho
desta janela...
Lá, bem distante, ‒ não parece
Tudo se dissolve, tudo é cinza
A noite entrou com seus passos
curtos de
pano
Vênus sorri, monalísica e monossilábica
no céu
frásico
O cavalo já não existe
já não existe o peixe ou seus tentáculos...
Apenas existe meu olhar triste
por trás da
branca grade
assombrando-se emudecido
com as formas que as sombras
prendem
sobre a cidade
e aqui por dentro de mim.
( Jacqueline Torres )