domingo, 31 de janeiro de 2010

Para os amantes da escrita uma boa pedida é ter bem à mão um bom dicionário, eu, por exemplo, tenho mania de ler dicionário, isso mesmo, ler, às vezes nem pesquiso, leio, vou de um verbete a outro com um prazer de doido que descobriu a roda. Além do tradicional, vou sugerir que acessem o dicionário português online http://www.dicio.com.br/ com 400.000 verbetes. É excelente!


Bom, aproveitem bem a sugestão, vale à pena!

sábado, 30 de janeiro de 2010

LÁ FORA

Lá fora a noite
marcha com passos de pano
banha-se de sereno
e parece que ri de mim
de minha aflição
E nos meus cabelos
ficam o orvalho
e a fragrância distante da maresia...
Lá fora à noite
eu me enfurno
nos cimos das árvores
pra contar estrelas
pra ver passar o gato pardo
pelas calçadas,
pela rua de terra...
Lá fora a noite
estreita caminhos
Abre espaços líricos pros boêmios
e os poetas marginais
Os catedráticos
estão em suas salas
calculando seus versos,
absortos nessa matemática insulsa
Lá fora à noite
eu espio as janelinhas distantes acesas
em edifícios tão altos... Tão altos...
Às vezes imagino serem elas imóveis estrelas
que acendem, que apagam...
Lá fora à noite
eu desgarro
o meu ectoplasma dançante
e saiu doida perambulando risonha
pelas velhas
e belas
e misteriosas ruas do Recife.
Mas só as antigas,
aquelas bem antigas
porque só nessas
há fantasmas irregulares como eu.


( Jacqueline Torres - Véspera do meu aniversário - 09/09 )
 
O PERFUME























              ("Some Hearts Wander" - Anne-Julie Aubry)


Alguém se aproximou de mim
com o mesmo perfume que usei
quando te amei
O mesmo aroma voraz de precipício
E o cheiro teve força de faca
furando minhas lembranças
Vassoura desembestada
espalhando saudades no meu coração...


( Jacqueline Torres - 24/03/09 )
OLHANDO O TEU RETRATO ( Doce e Amarga Herança )





No ar de riso eterno de minha avó
nesse retrato
estou eu diluída em sua composição
de mulher guerreira,
marcada de incerteza
E com uma alegria cortante,
rasgada
permanente
que lhe abria uma fenda,

chaga intrínseca
que a destacava imensa
na sua pequena e delicada figura.
Aqui estou eu, minha avó querida
e repito na minha sina
a mesma que te fez ausente dos amores
E foste tu que me incutiste
este espírito aéreo,
cantante,
espirituoso
De seus olhos
provêm os meus olhos,
e de suas dores
também minha chaga
Minha história é quase igual a sua
Apenas vimos por força do óbvio
em tempos irregulares
Como irregular
foi o seu
e também o meu destino.


( Jacqueline Torres - 07/05/09 – 22h47 )
BORDADO
(This Glorious Sadness - Anne-Julie Aubry)

Ninguém sabe de

quantas dores

fiz meu canto

Quantos fios de lágrima

tracei nos dedos para bordar

estes meus verso.


( Jacqueline Torres - 24/08/09 )

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Liberdade? É o meu último refúgio, forcei-me à liberdade e aguento-a, não como um dom, mas com heroísmo: sou heroicamente livre e quero o fluxo.


 
( Clarice Lispector )



ESTROFES E CATASTROFES



Uns poetas escrevem estrofes


no verso bem ordenado


Eu faço catástrofes


das palavras


dizemos do peito e da alma


mas não tenho calma quando escrevo


nem arquiteto a forma.


A minha forma precisa


precisa apenas de impulso


de minha destra sobre a folha


e o que escrevo


faço-o para desocupar o juízo


desafogar o peito


sem estética,


sem prumo, apenas por desespero.

 ( Jacqueline Torres - 02/03/09 )



QUERO...

                           
                                 
                                                                                              ( Imagem da Internet )


Quero uma alma


libertária,


de mulher,


de poeta,


de revolucionária...


                     ( Jacqueline Torres - 12/12/09 )