sábado, 30 de janeiro de 2010

LÁ FORA

Lá fora a noite
marcha com passos de pano
banha-se de sereno
e parece que ri de mim
de minha aflição
E nos meus cabelos
ficam o orvalho
e a fragrância distante da maresia...
Lá fora à noite
eu me enfurno
nos cimos das árvores
pra contar estrelas
pra ver passar o gato pardo
pelas calçadas,
pela rua de terra...
Lá fora a noite
estreita caminhos
Abre espaços líricos pros boêmios
e os poetas marginais
Os catedráticos
estão em suas salas
calculando seus versos,
absortos nessa matemática insulsa
Lá fora à noite
eu espio as janelinhas distantes acesas
em edifícios tão altos... Tão altos...
Às vezes imagino serem elas imóveis estrelas
que acendem, que apagam...
Lá fora à noite
eu desgarro
o meu ectoplasma dançante
e saiu doida perambulando risonha
pelas velhas
e belas
e misteriosas ruas do Recife.
Mas só as antigas,
aquelas bem antigas
porque só nessas
há fantasmas irregulares como eu.


( Jacqueline Torres - Véspera do meu aniversário - 09/09 )