POEMA DE INVASÃO
Por que caminhas com teu rastro de pedra a minha volta?
Por que sopra de teus cílios um vento ondeado de azul e
cinza
que
entorna meus cabelos?
Entras furtivo nos meus sonhos
e rouba-me os beijos mornos que guardo
com
palavras veladas,
pra
dizer ao teu ouvido distante e impreciso
Por que me sequestras pra morosidade de tua voz
armadilha
tosca
ventania
de flores
da qual fujo e me enveredo e me precipito mais e mais?
Por que me feres com teu riso?
Por que me privas da mobilidade
sem
que me detenhas?
Por que teço perguntas num papel áspero pra descrever a
suavidade
de
nuvem vespertina de teus olhos?
Por que minha mão em fuga, cerze inábil poema de areia?
Palavras... Palavras... Palavras...
Meu coração com voz de cacimba responde de água cristalina e
fria
sob
o lodo tátil toda a resposta,
e guardo-a delicadamente sob as pétalas azuis e roxas
de
flores escondidas no meu peito.
Invadiste-me.
Nada mais pergunto
nada mais posso dizer de ti.
Jacqueline Torres